03/12/2010

Alguns livros de José Cardoso Pires (formato PDF)

  • A república dos Corvos
São Vicente, para ser São Vicente e entrar na História como entrou, teve necessidade de dois corvos para o acompanhar que, por sinal, lhe foram sempre fiéis até hoje. Ora, duma ave como esta, tão convivente e tão enigmática, conta-se muita coisa. A própria Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, depois de muitos rodeios, afirma que o corvo é velhaco e ladrão, e isto, bem entendido, com a devida consideração pela agudeza e pela independência no trato que toda a gente lhe reconhece.
«Caguei para a Enciclopédia», diz o Corvo. E para comprovar alça a cauda e, zás, despede um esguicho de caca esbranquiçada. Caca esbranquiçada numa criatura tão negra é que ninguém esperava.
O corvo em questão chama-se Vicente. Puseram-lhe um nome de santo, que mais quer ele, mas nem assim se mostra lá muito reconhecido. Pertence a uma das últimas tascas de Lisboa, daquelas que antigamente, além do vinho, vendiam também carvão, pitrol e molhinhos de carqueja, mas isso foi há muitos anos, na idade do fogareiro e do candeeiro de chaminé, e nessa altura ainda ele não era nascido. Ou talvez fosse, com os corvos nunca se sabe. Há quem afirme que chegam a durar eternidades.
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  •  A Balada da praia dos cães
Balada da Praia dos Cães relata a investigação dum assassínio. A história começa com o relatório da descoberta dum cadáver enterrado numa praia, graças a alguns cães que, casualmente, dão com o morto sepultado na areia. Mais tarde a polícia descobre tratar-se do major Luís Dantas Castro, um militar preso por tentativa de sedição militar contra o regime político vigente, e que escapara da prisão, indo recolher-se, juntamente com três cúmplices: Mena, uma jovem mulher com quem o major tinha uma violenta e obsessiva relação antes do seu encarceramento, o arquitecto Fontenova, outro prisioneiro detido pelo seu envolvimento com a revolta militar e membro do mesmo movimento de resistência anti-salazarista do Major, e o cabo Barroca, uma guarda do campo a cumprir o seu serviço militar.
Os quatro refugiam-se numa casa situada a 20 km de Lisboa, aguardando a ajuda do advogado Gama e Sá, por eles apelidado Comodoro.
O responsável pela investigação é Elias Santana, um chefe da brigada da Policia Judiciária, que vai reconstituindo o crime graças sobretudo aos interrogatórios feitos a Mena, confirmados e completados mais tarde pelos outros dois cúmplices, entretanto detidos. Comprova-se que o major fora assassinado pelos seus três companheiros de fuga.
A acção do livro desenrola-se em dois planos: por um lado, o sucedido antes do crime, contado pela perspectiva de Mena; por outro, o próprio inquérito policial e a vida de Elias Santana. Neste último plano, o livro retrata a realidade e os métodos da polícia em pleno regime do Estado Novo, bem como a vida triste, rotineira e apagada de Elias Santana.
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  •  De Profundis
De Profundis, Valsa Lenta é uma espécie de testamento literário de José Cardoso Pires, tendo sido o penúltimo livro que editou - o último foi Lisboa, Livro de Bordo. Não se pode chamar romance, nem poema, nem crónica, nem memória. É antes um livro de «desmemória» ou uma memória da não memória. Nele, Cardoso Pires relata a fragmentação do Eu após um acidente vascular cerebral que o leva ao internamento no Hospital Santa Maria (HSM). A prosa é crua, despojada, e o livro esmaga-nos desde o princípio. E todavia é pequeno, pequeníssimo. Lê-se numa hora e deixa-nos sem palavras a vida inteira. Neste livro deambulamos no interior de nós mesmos, tal como esse «outro Eu» deambula pelos corredores do HSM a decifrar a escrita cuneiforme com que as frases lhe surgem escritas, ou a ténue familiaridade dos rostos, ou a antiguidade dos gestos, com uma virgindade imensa no olhar, como quem reaprende passo a passo o mundo. Como António Lobo Antunes, grande amigo de Cardoso Pires, escreveu sobre este livro, ele oferece-nos «o espanto de como, com aparentemente tão pouco, se levanta um mundo.» Nem mais. O livro é prefaciado pelo Prof. João Lobo Antunes, neurocirurgião no HSM.
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  •   O Delfim
No belíssimo romance que é O Delfim, José Cardoso Pires olhou a realidade do seu país como se fosse a trama de uma intriga policial.
Considerado um dos seus melhores romances, O Delfim é um marco na literatura portuguesa do século XX.
Adaptado ao cinema com argumento de Vasco Pulido Valente e realização de Fernando Lopes, conta com a participação de Rogério Samora e Alexandra Lencastre.
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